Tudo o que somos, tudo o que vivemos, tudo o que fizemos e fazemos, tudo o que compramos, tudo o que vendemos, tudo o que conquistamos, tudo o que cativamos, tudo o que olhamos, tudo o que tocamos, tudo o que cobiçamos, tudo o que desprezamos, tudo o que amamos, tudo o que odiamos, tudo o que tememos, tudo o que acreditamos, tudo o que descremos, tudo o que sonhamos; todas essas coisas, em seus devidos ciclos, devem ser colocadas na balança da relevância.
Ciclo: Série de fenômenos ou fatos que se sucedem periodicamente numa determinada ordem.
A balança da relevância é um instrumento de absurda precisão, que deve estar continuamente ligado. Ela deve ser instalada entre a mente e o coração. Mas cuidado!
É necessário calcular a distância entre os dois. Uma má instalação pode resultar numa injusta medição.
Depois de passar pela balança, o objeto avaliado terá dois possíveis destinos: o baú da lembrança ou o mar do esquecimento.
Posso parecer piegas, ultimamente falo muito de esquecimento.
Mas há coisas que se não forem esquecidas, nos matam aos poucos.
E a morte não deve acontecer aos poucos. A morte deve ser invisível.
Pelo menos deveria ser.
Sorte que existe o baú da lembrança. Engraçado, ele fica muito perto da balança da relevância. Isso acontece porque as coisas que devem ser guardadas no baú da lembrança, não podem sobreviver soltas no ar por muito tempo. Logo que são computadas como merecedoras de serem lembradas, devem ser guardadas para não perderem seu brilho e calor.
Uma vez dentro do baú, ficam disponíveis para serem apreciadas para sempre.
Ah, já ia me esquecendo de falar sobre o mar do esquecimento.
O mar do esquecimento fica do lado de fora. Perto de tudo o que nos rodeia.
É o único mar dentre todos os oceanos que não traz de volta as coisas que nele são jogadas.
Sua virtude é a renovação. Apesar de ser diariamente atacado por tudo o que há de ruim, ele nunca ficará poluído. Suas ondas são calmas, tranqüilas...
E pode nos refrescar.
Aprendi a medir, relembrar e(quando necessário) esquecer.